sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Crise não assusta o mercado da música ao vivo

Crise não assusta o mercado da música ao vivo


LUÍS FILIPE RODRIGUES
PAULO SPRANGER
Concertos. A recessão ainda não atingiu as grandes empresas que organizam espectáculos, como a Everything Is New ou a Ritmos e Blues. Para já, os agentes de média dimensão são os mais afectados As principais promotoras nacionais de espectáculos estão confiantes. A maior parte dos agentes contactados pelo DN acredita que a crise económica global não vai atingir as indústrias culturais. "Todos os indicadores levam a acreditar que a crise económica não irá afectar o mercado nacional de concertos", disse Nuno Braamcamp, responsável pela Ritmos e Blues Produções, em declarações ao DN.

"A população em geral continua a apostar forte na cultura, não cedendo à crise que se instalou em quase todos os quadrantes nacionais e internacionais", diz. Álvaro Covões, que controla a Everything Is New, concorda com estas posições, considerando que os concertos já são um bem essencial. "Hoje, os bens culturais já fazem parte do cabaz básico de muitos portugueses", diz. "Não é a primeira coisa em que as pessoas cortam". Em suma, "ainda não se sente o fantasma da crise no mundo dos espectáculos".

Contudo, algumas promotoras e salas de concertos de média dimensão consideram que os efeitos da crise já começam sentir-se em Portugal. "Vimos a sentir isso desde Outubro," afirma Ricardo Simões, da promotora Smog. Na sua opinião, não é só a nível das vendas de bilhetes que se sente os efeitos deste clima económico adverso, que se traduz ainda numa redução do financiamento público. "O que sustenta as pequenas e médias produtoras são as câmaras, que em ano de eleições estão a fazer um corte de 30%. [Autarquias] que no ano passado pagavam dez mil euros por um artista estão a pagar seis mil. Quem pagava seis mil, paga quatro mil". Arrisca por isso prever que "só vão resistir os grandes [promotores] e os muito pequenos, porque os médios estão a desaparecer".

A opinião de Gonçalo Riscado, um dos sócios do Musicbox, também vai ao encontro desta posição. "O decréscimo de público foi sentido por muitos promotores ao longo do ano que passou, afectando inclusive grandes festivais de referência", lembrou. "Em termos de investimento público, como é usual, o sector cultural é sempre o primeiro a sofrer em tempos de crise. Salvar-se-ão, como também já é habitual, alguns projectos mais comerciais que, em ano de muitas eleições, deverão ter no sector público boas fontes de receitas".

Alexandre Barbosa, administrador delegado do Pavilhão Atlântico, lembrou que o espaço do Parque das Nações "conta neste momento com uma agenda robusta de espectáculos". Sabe porém que "pode haver uma maior tendência para arriscar e investir menos, nomeadamente por parte dos players de menor dimensão".

Contudo, "poderá eventualmente dar-se alguma transferência da despesa em lazer por parte do consumidor, nomeadamente com o facto de alguma retracção do consumo em turismo ou bens supérfluos poder ser compensada com uma maior permanência no País e maior disponibilidade (mesmo financeira) para assistir a espectáculos".

"Não há vontade de gastar dinheiro em grandes aventuras, é mais fácil ir a concertos e ao cinema", concorda Sérgio Hydalgo, da Galeria Zé dos Bois, que ainda não começou a sentir os efeitos desta recessão. Socorre-se também da história, lembrando como as indústrias culturais resistiram à Grande Depressão norte-americana, nos anos 30. "Nessa altura, os teatros não sofreram. Pelo contrário, foram um balão de oxigénio para as populações."|

Sem comentários: