João Tovar
Quando se começa a falar em profissionalização numa determinada área de actividade, significa usualmente que estamos a meio caminho entre caos e estandardização. Durante os últimos vinte anos, as profissões ligadas às artes e cultura, duma forma geral, funcionavam quase como um gueto, suportado ao nível do ensino apenas por conservatórios, escolas de belas artes e pouco mais. Exemplos de algumas excepções incluíram o ARCO, a Cooperativa Árvore e a Escola Superior de Teatro e Cinema. E ao nível do estatuto profissional, legislação e condições materiais destas profissões, o panorama era pouco menos do que marginal. Nos últimos dez anos, o panorama tem vindo a inverter-se ao nível do ensino e formação, com o reforço do papel dos institutos politécnicos (um bom exemplo é o da ESAD integrada no Instituto Politécnico de Leiria) e o aparecimento de ofertas ao nível da formação profissional (ETIC e mais recentemente a Restart são claros exemplos, sem esquecer o esforço de várias associações culturais e artísticas). Mais recentemente, o declínio da população mais jovem e o processo de Bolonha estão também a obrigar a que as Universidades, em cursos desta área, se adaptem a um ensino mais ligado à comunidade e mais prático. Ao nível da profissionalização, o recente movimento pela melhoria das condições materiais de trabalho e de legislação já teve uma expressão marcada, e a intervenção dos profissionais ligados à cultura começa a ter peso e influência política (ao nível das políticas e da actuação dos ministros na área, p.e.). Um dos próximos passos será com certeza a criação de mais e melhores associações profissionais que funcionem, não só ao nível reivindicativo mas também pró-activas ao nível da formação, ligação a outras associações nacionais e internacionais, diálogo com o poder político e ainda relação com as empresas e comunidade em geral. Outros passos importantes serão a melhor definição e protecção do estatuto dos vários profissionais na área cultural, formação e ensino em constante diálogo e adaptação às verdadeiras necessidades e especificidades desta área e, nos próximos anos, melhorar as competências de gestão e comunicação cultural, permitindo assim a sustentabilidade financeira e a criação de novos públicos sem nunca perder espaço para a criação e a experimentação. Finalmente, falta apenas falar do essencial sobre a profissionalização que é a vocação. A cultura e arte dos povos sempre se fez por impulsos, vagas e reacções às normas e cristalizações da comunidade, começando muitas vezes marginalmente e por paixão e inconformismo. Seja na criação, produção, comunicação ou técnica, os verdadeiros profissionais e amadores da cultura movem-se por vocação, paixão e total empenho. Tudo o resto, incluindo a profissionalização, vem atrás. Eu diria portanto, que o que urge é a profissionalização da Alma.
Nasceu em 1967. Tem bacharelato em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema e cursou diversos workshops e seminários. A sua experiência profissional tem sido desenvolvida em várias funções nas áreas de televisão, publicidade e cinema. Entre 1998 e 2001 foi director das revistas Videoplus, Page e Áudio Profissional. Desde 1995 dá formação nas áreas de som, imagem, multimédia e eventos. Actualmente é director geral da Restart (desde 2003).